sexta-feira, 8 de maio de 2009

Casualidades


http://maviatlas.deviantart.com/art/lost-children-orijinal-27150094


Às vezes bate aquela vontade de estar só, quando algumas coisas dão errado, ou justamente por estar só sem entender. É temporário claro, o humor melhora. Mas não naquela hora. Voltando pra casa depois do serviço, so queria pegar meu ônibus e me recolher na última poltrona e pensar. Sobre mim. Mesmo no fundo sabendo que não gosto disso e não deveria ficar fazendo, tanta coisa que há para nos preocupar, a certeza de que não importa o quanto a gente esteja sofrendo em algum pontinho no mundo alguém está pior precisando de mais ajuda. Sabe aquela birra que mesmo assim tu não consegue fazer a coisa certa?
Comigo sempre surge algo que faz eu deixar de pensar em mim, n vezes que iria desabafar e via que era a outra pessoa que precisava.
E achei meu lugar no ônibus. Era 20h. Não demorou muito e um guri, de 10 ou 11 anos, bem espoleta e faceiro, senta do meu lado. Dá dó de lembrar das roupas esfarrapadas, mochila mais do que judiada e o coitadinho fedia. Dá raiva do mundo às vezes. Mas raiva ele não tinha. "O meu cabelo é mais legal que o teu, tio" disse pra mim. Eu disse que o meu era bem feio mesmo (rs). E ele completa "ahh mas o teu é bem bacana também". Fanfarrão e educado.

Eu sou bem sem jeito com crianças não sei o que dizer, eu brinco mas custo a me enturmar tenho vergonha acredite. Mas não ignorava. Cada mulher que via pela janela do ônibus ele apontava todo se rindo. "tu tem mulé, tio?" e eu ri do jeito da pergunta, ele pergunta de novo "tu é casado?" e respondi "não". E mais uma moça passava do lado e mais risadinha. Perguntou o mesmo pro senhor que estava do outro lado, que respondeu sim. Mulekinho xarope hehe.

Ficava latindo e dizendo que tinha um cachorro na minha mochila, e eu disse "quem dera..." E depois eu brincava que tava na dele. E latia, e perguntava se eu sabia latir. Depois assobiava, conferia se eu sabia também "mas tu não sabe nada tio?". Perguntei se ele sabia assobiar mais alto, pra brincar com o resto dos passageiros, mas ele não conseguiu rs. O senhor que estava do lado também não sabia latir e assobiar. Pediu uma moeda, e eu não tinha nada. Ele ia falando e eu pensando sobre essas coisas que surgem diante da gente e não resta muita coisa para gente fazer.
"Tu tem mãe?" juro que pensei em 2 segundos mundos de coisas, se ele tinha ou não, e como que devia ser com ele. Perguntou o que eu daria para minha, e comentou que não sabia o que dar para a dele. E que o aniversário do mano dele seria amanhã (sexta agora). "Quantos anos ele tem?" e o guri pensou um tempo e disse "9".
- Qual o teu nome tio?
- Victor. E o teu?
- Luis Henrique.
A partir daí ele começou a chamar de amigo, e muito preocupado em descer na Santa Casa. Pensei em deixar um desenho pra ele dar pra mãe dele, sempre carrego minha pasta, mas não consegui imaginar algum que ela pudesse gostar, afinal retrato de uma mulher qualquer não vai querer.
"Dá um espantalho" Disse o Bruno um amigo meu, mas não tinha nenhum aqui, aliás até tenho mas esse estou guardando para uma certa oportunidade.
É colorado, e eu gremista e fez aquele fiasco que sempre fazem quando a outra pessoa é do outro time, o senhor do outro lado é colorado também. "tu é dos meus" rs.
Quis ceder o lugar dele para uma senhora, que disse "não precisa, 'brigada". Mas é educado! Chegando na parada dele foi dizendo que ia dar tchau na janela, desceu gritando "tchau amigo!" e abanando. Fazendo pirraça na rua do tipo pulando o corrimão que fica na frente da igreja e se pendurando, abanando e tentando me dizer alguma coisa que eu não entendi, mais tchaus e o Luis Henrique desceu a escadaria da rodoviária. 8 e meia da noite.

Por que contar um ocorrido tão simples? Bem, como disse o Bruno, é quando a gente menos espera que coisas bacanas acontecem. Só de ter feito eu rir e impedido de ficar mais uma vez melancólico, foi muito válido. São coisas que não dá ignorar, por mais que pareça algo de nada, e são situações que o mínimo que a gente fizer já vale alguma coisa.
Não acho que seja algo de coração mole ou ingenuidade muito menos "nooossa que atitude linda!" quando se tenta ajudar, nem frieza ao raciocinar que é melhor não.

Não quero deixar o post muito denso, nem julgar nada, é só pra expor. O assunto tá aqui e deixo o resto para vocês que lerem, por mais que já devem ter pensado sobre essas coisas, não custa nada mais um pouquinho. Melhor eu ficar por aqui. Outra hora falo melhor dessas coisas.
até.

3 comentários:

  1. Eu já conhecia a história, com menos detalhes ;)
    Realmente, coisas simples nos acontecem às vezes pra fazer-nos sair do nosso mundo e cair na realidade, pra nos despertar pra vida que passa e a gente nem ve, nem valoriza.
    E as simples coisas da vida são sempre as melhores, as mais prazerosas e que nos enchem o coração de alegria...

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  2. Às vezes a gente fica triste por pouca coisa e alguns ensinam que se pode ser alegre com pouca coisa...

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  3. Já percebeu como estas crianças simples que estão sempre sozinhas nas ruas são tão carentes de atenção e afeto? Muito legal a história. Já aconteceram coisas parecidas comigo, mas nunca uma criança tão alegre assim eu conheci.
    Elas vêm pra mudar as nossas preocupações, né?
    Concordo com a Julie sobre as coisas simples.
    É bom se preocupar com os outros. Até pra esquecer os nossos próprios problemas.
    E essa coisa do desabafo que tu escreveu ali no início, é bem verdade. A gente vai conversar com alguém e acaba ouvindo mais do que falando.
    hehehehehehe
    Bjs

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